sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Feliz Natal e um 2018 Maravilhoso!

Natais Inesquecíveis




Nas minhas infância e adolescência, todos os Natais foram iguais. Maravilhosamente iguais! Meu pai, minha mãe, minha querida avó materna, meu irmão e eu nos reuníamos, conversámos bastante, assistíamos a missa do galo (por exigência de minha vó), ceávamos, abríamos os presentes e íamos dormir. No dia seguinte, ficávamos juntos e, à noite, levávamos minha avó até sua casa – ela morava um pouco longe, mas valia pelo passeio! Na volta, eu pedia para passarmos pelo Aterro do Flamengo (estamos falando do Rio de Janeiro) a fim de ver os altos postes de iluminação que, enfeitados com milhares de lâmpadas coloridas, se transformavam em imensas árvores de Natal! Às vezes, alguns parentes e amigos apareciam, porém nós cinco sempre estávamos juntos.
    
Naquela época, ainda não havia internet e nem este moderno conceito de shoppings no Rio, que começou com a inauguração do Rio Sul (Botafogo, 1980), e as compras eram feitas em lojas de rua incrivelmente cheias e no calor do verão carioca. Minha mãe se preparava psicologicamente e levava os dois filhos para ajudar a carregar os vários embrulhos. Mas criança sempre leva tudo na farra e lá íamos nós, felizes, para o front!
    
Cada um tinha as suas tarefas e as minhas eram embrulhar os presentes, arrumar a mesa para a ceia e montar a árvore - eu ficava tão agitada com os preparativos que, semanas antes, já começava a enfeitar as bolas com purpurina, cada uma de um jeito, para ficar bem diferente e dar um brilho especial. Desmontar a árvore, depois da empolgação das festas, já não era muito a minha praia... Mamãe e vovó, cozinheiras de mãos cheias, faziam os quitutes. Minha avó – altiva, corajosa, forte – se chamava Leonor, no entanto todos a conheciam pelo seu apelido de infância e dona Bolinha gostava de repetir, orgulhosa:
     
– Deixem a bacalhoada e os bolinhos de bacalhau por minha conta! Aprendi a fazer com minha sogra, portuguesa de verdade!
    
E ai de quem se intrometesse em sua cozinha... Minha mãe sempre fazia (e ainda faz) uma fantástica salada de melão com aipo que, nos idos anos 70, tínhamos de rodar a cidade inteira para achar. Quando o dia 24 de dezembro ia chegando, meu pai já começava a ficar estressado, sabendo que a busca insana iria começar – e esta era a tarefa dele. Ele reclamava, mas acabava achando o tal do aipo.
    
Para a sobremesa, uma saborosa torta de nozes com tâmaras e o tradicional pavê que, é claro, sempre vinha acompanhado da indefectível piadinha:
   
 – É pavê ou pa comer?
    
Todo ano eu esperava ansiosamente pelo Natal que, depois da morte de meu pai, se tornou triste e sem colorido por muito tempo. Aos poucos, as cores foram voltando, porém com outros matizes, novos tons.

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Em 1994, Tranka e eu passamos nosso primeiro Natal em Saint Martin, uma ilha no Caribe francês e da qual já falei aqui. Nós e alguns gatos que acolhemos em nossa casa! Para recém-casados, é um desafio passar o Natal sozinhos, longe de tudo e de todos, em outro país, outro idioma, outra cultura... Mas foi sensacional!

Fizemos a ceia depois do trabalho e presenteamos cada gato (e eram vários) com uma latinha de ração úmida enfeitada com um laço rosa. Enquanto conversávamos, distraídos, um dos gatinhos pulou na mesa, sorrateiramente, e pegou um naco de peru defumado maior do que ele. Quando vi, o pequeno Jamelão (sim, foi uma homenagem ao cantor) estava com o pedaço na boca, olhando para o chão e titubeante, pensando em como iria descer de tão alto sem se machucar ou deixar cair aquela iguaria apetitosa. Ri muito, mas ele levou uma baita bronca mesmo assim e nunca mais subiu em nossa mesa de refeições. Tudo era novo para mim naquele momento: gatos, Saint Martin, casamento, cantar apenas em dupla e sem uma grande banda de apoio... Foi uma experiência mágica e muito, muito feliz!

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Anos depois, já de volta ao Rio de Janeiro, fomos contratados para tocar na bela casa de uma tradicional família carioca na noite do dia 24 de dezembro. Estavam presentes muitos adultos e crianças e o patriarca, frequentador das famosas boates do Leme nos anos 50 e 60, apreciava o repertório de Frank Sinatra e os standards norte-americanos. Havia um ótimo piano de meia cauda no local e aproveitamos para fazer um trabalho no melhor estilo das casas noturnas antigas: baixo acústico, voz, piano, bateria e trompete - o grande Darcy Cruz, músico de primeira e um virtuose com sopro poderoso, mas que também conseguia tirar um som incrivelmente suave de seu instrumento. Um mestre.
    
A matriarca da família, muito católica, pediu ao padre de sua igreja para rezar uma missa, antes da ceia, no pequeno altar improvisado no salão. Durante a missa, cantei Ave-Maria, de Gounod, e algumas canções natalinas. Após o término, todos os convidados se confraternizaram. Lembrei-me dos Natais que passava com meu pai e minha avó materna e me emocionei, porém estava vivendo mais um lindo Natal, com Tranka e outras pessoas maravilhosas, e que também ficaria eternizado dentro de mim, juntinho de todas as minhas inesquecíveis lembranças – aquelas que dão sentido à nossa existência e nos tornam um ser humano melhor. Feliz Natal e um 2018 de muita paz para todos vocês! 


No vídeo, Nat King Cole e Frank Sinatra, cantando The Christmas Song (Merry Christmas to You), de Bob Wells e Mel Tormé. Esta foi uma das canções que interpretamos em um dos Natais citados no texto. A foto que abre a postagem é minha, com 15 anos, ao lado de uma das muitas árvores de Natal que tivemos.

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