sábado, 14 de novembro de 2015

As Tragédias de Mariana e Paris

Assim Caminha a Humanidade


Este é um blog sobre música e músicos, mas não consegui ficar indiferente aos últimos acontecimentos no Brasil e na França. Além da perplexidade pela gravidade dos fatos, também me surpreendi com os comentários de alguns, dizendo que nada foi divulgado sobre Mariana e que não devíamos nos importar tanto com um problema em outro país se temos outro tão grave aqui. E, quase como um desabafo, escrevi.

Algumas pessoas têm comparando as tragédias de Minas Gerais e de Paris: uns falam da cobertura da mídia, e outros, da mobilização das pessoas. Desde que houve o rompimento da barragem, em MG, li e assisti a uma ampla cobertura da imprensa sobre o assunto. Já ouvi a opinião de vários especialistas, prognósticos, estatísticas... E amplamente divulgado na mídia escrita e falada. Só não vi o posicionamento das autoridades competentes e a nossa presidente se preocupou em avaliar a situação apenas uma semana depois. Os políticos, estes sim, encastelados no poder e lutando para não perdê-lo. Parece que isto é o mais importante no meio do caos que se instalou na região de Mariana.

Comparar as duas tragédias e exigir que optemos por uma ou por outra é colocar o ser humano no pior degrau de evolução, pois não somos somente sim ou não, certo ou errado, isto ou aquilo. Temos vários matizes, várias opiniões e vários sentimentos. Somos capazes, sim, de sofrer por uma tragédia como a de Minas e por uma carnificina como a de Paris. É natural que a mídia mundial dê mais destaque ao ato terrorista, pois ocorreu em um país que sempre foi um exemplo internacional de igualdade e liberdade de expressão. Além do mais, o Estado Islâmico (EI) está ameaçando o planeta inteiro e ataques como os de ontem podem acontecer em qualquer lugar. É um sinal de alerta máximo. As forças armadas francesas, norte-americanas e russas estão na Síria, tentando combater o EI e, na minha opinião, isto já configura uma guerra.

Por favor, não vamos competir para ver quem está sofrendo mais ou qual é a maior tragédia. Vamos aproveitar para comparar a resposta das autoridades diante das duas catástrofes e exigir de nossos políticos ações rápidas e eficientes sempre. Não gastemos nossas forças em bobagens. Vamos nos concentrar no que é realmente importante, sem discussões inúteis entre nós mesmos. A hora é de união e de cobrança a quem tem a responsabilidade de zelar pelo nosso patrimônio - seja ele histórico, moral, financeiro. No meu coração, há espaço para vários sentimentos, vários quereres e estou igualmente triste por todos os acontecimentos e pelos rumos que o mundo está tomando. E, caso alguém ainda não tenha visto na mídia, ontem também aconteceu um terremoto de sete graus na costa sudoeste do Japão (com alerta de tsunamis). Ainda não se tem notícias sobre os danos. Também me solidarizo com o povo japonês e com todos que estão sofrendo neste mundo horroroso que estamos deixando para as gerações mais novas.


Creio que este vídeo é apropriado para a ocasião, pois o inesquecível Louis Armstrong canta a belíssima What a Wonderful World (Bob Thiele - George David Weiss) depois de algumas frases em que fala, entre outras coisas, de poluição.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Vídeo dos Anos 80

Marcia Calmon e Outras Cantoras da Noite Carioca


Este vídeo mostra duas participações minhas em programas na extinta TVE (Rio de Janeiro). Eles foram gravados em fita VHS que, com o passar dos anos, ficou em péssimo estado. Só consegui salvar alguns pedaços que foram convertidos para P&B por causa da péssima definição de cor.

O primeiro programa foi em outubro de 1985, cujo nome não me lembro, e fizeram uma pequena matéria sobre o meu trabalho e minha vida pessoal. Na parte filmada na Gafieira Estudantina, minha mãe e eu cantamos Sonho Meu (Ivone Lara - Délcio Carvalho) com a Orquestra Waldir Calmon que, depois da morte de meu pai, passou a ser administrada pela viúva e pelos dois filhos. O outro cantor da banda, Anderson, fez uma participação no refrão. No começo, canto Madalena (Ivan Lins - Ronaldo de Souza) e a voz masculina em off, narrando, é de Oswaldo Sargentelli.

O segundo foi um programa de entrevistas chamado 1986 e gravado em janeiro do mesmo ano. Eu já havia participado do mesmo programa no ano anterior, quando se chamava 1985 - há inclusive um vídeo em meu canal no YouTube. O 1986 era apresentado por Ziraldo e Elizabeth Camarão e, neste dia, o tema foi O Breve Brilho da Noite - somente com cantoras da noite do Rio de Janeiro. As convidadas foram: Áurea Martins, Celeste Lassaval, Rose Valentim, Fátima Regina e eu. As músicas cantadas neste programa foram: Pela Rua (Dolores Duran - Ribamar), Rio Antigo (Chico Anísio - Nonato Buzar), Demais (Tom Jobim - Aloísio de Oliveira), Dindi (Tom Jobim - Aloísio de Oliveira), Meiga Presença (Paulo Valdez - Octávio de Moraes), Volta (Lupicínio Rodrigues) e É Com Esse Que Eu Vou (Pedro Caetano). Ao piano, Anselmo Mazzoni. Espero que gostem!



quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Minha Voz, Minha Vida

Como Manter a Voz Sempre em Bom Estado?




Muitos cantores, profissionais em início de carreira ou amadores, me perguntam qual a melhor forma de manter a voz sempre em boas condições. Ficam confusos talvez pela enxurrada de dicas que encontram por aí: conhaque, própolis, gengibre, maçã... Canto profissionalmente desde 1985 e já fiz quase tudo que me indicaram. Quando comecei, alguém me disse que comer cebola crua “abria a voz”. Pois bem, eu comi. E comi muitas. Foram dúzias de saladas de cebolas cruas antes dos bailes. O máximo que consegui foi afastar a banda inteira cada vez que me virava para pedir tom. Por melhor que seja a nossa higiene bucal, o cheiro da cebola crua não sai. Talvez só com gargarejos de soda cáustica...

Sempre li muito a respeito para tentar tirar o melhor proveito de meu aparelho fonador. Acho que isto e minha experiência podem ajudar um pouco. Primeiro, vamos entender rapidamente como funciona a formação da voz: ela é produzida através de um som básico gerado pelo ar que sai dos pulmões e passa pelas pregas vocais que são localizadas na laringe (espécie de tubo alongado que fica no pescoço). Antigamente, as pregas vocais eram chamadas de cordas vocais, mas elas não são cordas! São duas dobras, formadas por músculo e mucosa, paralelas ao solo. Quando emitimos um som, elas vibram, muito ou pouco, dependendo do timbre: quanto mais agudo, mais elas terão de vibrar. O som produzido na laringe ainda não é a voz que ouvimos. Antes, ele passará por várias estruturas em nosso corpo para amplificá-lo até sair pela boca. Estas estruturas são chamadas de caixas ou cavidades de ressonância e estão presentes no tórax, pescoço e cabeça.

Pelo breve exposto, podemos deduzir que o ato de cantar depende de uma boa condição física, já que grande parte de nosso corpo está comprometido com a formação da voz e que, principalmente, nosso instrumento de trabalho não pode ser comprado ou trocado, como uma guitarra ou um teclado. Portanto, a minha resposta, quando me perguntam se tenho algum truque para manter a voz em bom estado, é “tenha uma vida saudável!” Faça exercícios aeróbicos, para desenvolver sua capacidade pulmonar, e de resistência para não criar tensões em áreas do ombro e pescoço devido ao atrofiamento da musculatura. Pelo mesmo motivo, faça exercícios vocais regularmente, pois a emissão da voz envolve vários músculos específicos e músculos trabalhados sempre respondem melhor.

Não fume, pois o muco que o cigarro produz envolve as pregas vocais, dificultando sua vibração – daí o timbre mais grave dos fumantes. O muco também pode obstruir algumas caixas de ressonância de seu corpo (lembre-se que elas amplificam o som), tornando o timbre “opaco”. Gripes e resfriados são inimigos de quem canta e, por esta razão, tomo anualmente a vacina. Nada pior do que uma constipação nasal para entupir várias de nossas cavidades de ressonância...

Beba sempre muita água (em temperatura ambiente) para manter a saúde de suas vias respiratórias e a hidratação das mucosas. A hidratação se faz de forma direta, umedecendo as mucosas, e indireta, quando a água é absorvida pelo estômago e volta para o organismo – mas este processo é mais lento. Esqueça as bebidas alcoólicas, pois elas dão uma falsa sensação de aquecimento na garganta e ainda ressecam nossas mucosas. Algumas pessoas acham que, quando estão com dor de garganta, o álcool ajuda. Não, o álcool nunca ajuda. Ele apenas “anestesia” e o cantor acha que melhorou, começa a cantar, a forçar e, no dia seguinte, está bem pior.

Como a performance vocal depende de nosso estado físico, alimente-se adequadamente e durma bem, muito bem. O descanso é importantíssimo para um bom desempenho. Depois que cantamos, nossa garganta está super aquecida. Portanto, evite correntes de ar e afins. E ela não fica aquecida apenas quando cantamos. Basta falarmos. E quanto a falar, procure não falar alto.

Em resumo: não adianta nada lembrar-se de sua voz apenas na hora do show. Nenhum truque mágico fará um corpo debilitado ou uma garganta mal tratada produzir uma boa voz. A maçã está na moda entre os cantores, mas ela não faz milagres: é uma ótima fruta detox, limpando o organismo, mas pouco adiantará se você estiver com muito muco. Além, é claro, de dar uma fome danada e cantar com fome é complicado...

A única coisa que realmente ajuda antes de uma apresentação é o aquecimento vocal. Sim, aqueles exercícios que os professores nos ensinam. Eles são fundamentais! E, durante a função, beba água não gelada – principalmente se o clima estiver seco ou o ambiente tiver ar-condicionado. O resto é pajelança.

Se, depois de tudo isto, você ainda quiser ser um cantor profissional, parabéns! Bem-vindo ao clube! E lembre-se: se você tratar a sua voz com carinho, ela poderá lhe trazer belas alegrias.


Esta música se chama Minha Voz, Minha Vida (Caetano Veloso) e foi gravada por Gal Costa, em 1982, no vinil Minha Voz. Este vídeo é de uma apresentação em 2013 e quem está no violão é Pedro Baby - filho de Baby do Brasil (ex-Consuelo) e Pepeu Gomes.