quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Centenário de Waldir Calmon (1)

Cem anos de muita música!



Dia 30 de janeiro de 2019, meu pai, o pianista e compositor Waldir Calmon, faria 100 anos! Inúmeras lembranças me vêm à cabeça, do pai e do artista, e se embaralham, num misto de saudade e orgulho. Fui agraciada com um pai dedicado, amoroso e extremamente cuidadoso – seus excessos, por vezes, me irritavam, embora lá, bem no fundo, eu sempre soubesse que era amor. Suas idiossincrasias me confundiam, pois o homem que me ensinou as primeiras notas na pauta era o mesmo que fez de tudo para eu não ingressar na carreira artística e que também ficava todo bobo quando me via pegar algum instrumento e sair tocando. Creio que ele se identificava muito comigo quando via minha ânsia por saber, a curiosidade imensa que eu carregava dentro de mim e a minha paixão por desenhar e tocar. Eu sabia que poderia contar com ele para qualquer coisa e ele sabia que a recíproca era verdadeira. Infelizmente, não pude fazer nada para impedir o seu infarto, mas posso, ao menos, lutar para que o trabalho que ele fez, com grande amor, não morra também.

Para quem não conhece a extensão da obra de meu pai, fiz um site (www.waldircalmon.com) e uma página no Facebook (Centenário de Waldir Calmon), postando fatos e curiosidades da vida do artista e todas as homenagens que acontecerão no decorrer deste ano. 

Tentando resumir o seu legado, além de pianista e compositor, Waldir Calmon gravou cerca de 130 títulos - entre LPs, compactos, regravações etc -, mas foi com a série Feito para Dançar que ele atingiu a impressionante marca, para a época, de 100.000 exemplares vendidos em 1957. Ele também gravou, com a cantora Ângela Maria, o antológico Quando os Astros Se Encontram (Copacabana Discos, 1958) que tem, por sugestão de Waldir, a gravação original de Babalu (Margarita Lecuona) e talvez o maior sucesso de nossa querida sapoti.

A sua contribuição para o então incipiente mercado fonográfico brasileiro foi imensa:
   - Primeiro artista a gravar um long-play de dez polegadas na América do Sul com o vinil Ritmos Melódicos (Rádio, 1952).
   - Primeiro artista popular a lançar um disco de 12 polegadas no Brasil com a série Feito para Dançar.
   - Gravou, também pela Rádio, o primeiro disco estéreo genuinamente nacional, conforme matéria do jornal JB - coluna Discos Populares, de Mauricio Quádrio, em 29/11/1958.
  - Primeiro artista a conseguir uma tiragem de 100.000 discos em território nacional com a série Feito para Dançar.
  - Criou o disco para dança, sem intervalos entre as faixas, reproduzindo o som das boates da época e ideal para festas em casas de família.

Nos anos 1940, Waldir Calmon lançou o solovox: um pequeno sintetizador de três oitavas, monofônico e importado que era acoplado ao piano acústico, fazendo um som diferente. O solovox, fabricado pela Hammond Organ Co norte-americana entre 1940 e 1950, foi o precursor dos teclados eletrônicos em geral. Waldir também participou de filmes nacionais, como Hoje o Galo Sou Eu (Aloísio T. de Carvalho, 1958) e Com A Mão Na Massa (Luiz de Barros, 1958), e ganhou dezenas de prêmios por seu trabalho.

Em 1955, abriu sua própria casa noturna no Leme, RJ - a Arpège. O sucesso foi tanto que outra série de discos, Uma Noite no Arpège, surgiu. Nomes como Tom Jobim, Chico Buarque, Dóris Monteiro, João Gilberto e Ary Barroso, entre outros, apresentaram-se em sua boate. A Arpège entrou para a história da vida noturna carioca e da música brasileira. Dentre as muitas histórias, Vinícius de Moraes conheceu Baden Powell durante um show na boate e lá estreou o novato Chico Buarque, fazendo o show Roda-Viva com o MPB4 e Odete Lara.

Em homenagem a esta data tão especial, fiz um set com 41 minutos só de músicas da famosa Feito para Dançar (esta série ainda não foi disponibilizada para streaming ou venda). Clique aqui para ouvir. Ainda sobre as gravações de Waldir Calmon, muitos me perguntavam onde poderiam comprar ou baixá-las e eu, constrangida, não tinha muito o que falar. Agora, para minha alegria e após vários pedidos, a gravadora finalmente disponibilizou uma parte de sua obra para streaming e download na internet!!! É muito mais prático e econômico, pois você pode comprar o disco inteiro ou apenas a faixa individual! Se preferir, pode colocar as músicas em playlists de sites como Deezer e Spotfy e ouvi-las sempre que desejar! Há dez discos de Waldir Calmon na GooglePlay: as compilações Grandes Exitos, The Beat of Brasil, Seleção de Ouro – 20 Sucessos, Maringá e O Lounge Brasileiro, e os discos de carreira Samba Alegria do Brasil, Quando os Astros se Encontram, Mambos, Mambos 2 e Ritmos Melódicos 1.

Waldir Calmon também está concorrendo a uma placa pelo projeto Patrimônio Cultural Carioca - Circuito Rádio, oferecido pelo Instituto Funjor e pela Prefeitura do Rio de Janeiro. Cada voto equivale a uma doação de dez reais e você pode votar quantas vezes quiser: basta fazer o depósito na conta da Funjor e enviar o recibo com o nome do artista votado. Os cinco primeiros artistas mais bem votados ganharão uma placa, falando de sua carreira, e a final será em março (mais detalhes no Facebook). O meu desejo é colocar a placa no lugar onde antes funcionava a boate Arpège, no Leme, RJ. Fiz um vídeo para divulgar a iniciativa que você poderá assistir no final deste post.

Quem quiser conhecer mais a fundo o trabalho de meu pai e, claro, ouvir muita música, por favor, visite o site www.waldircalmon.com. Ele nos deixou muito cedo, mas sua obra permanece bem viva!  Um abraço!  


Participação de Waldir Calmon no filme Hoje, o Galo Sou Eu! (1958) em que o pianista e seu conjunto tocam as músicas Concerto n°1 (Tchaikovsky), Polonaise (Chopin), Samba no Arpége (Waldir Calmon e Luís Bandeira) e, acompanhando a cantora Neusa Maria, Nova Ilusão (José Menezes e Luís Bittencourt). Hoje, o Galo Sou Eu! foi dirigido por Aloísio T. de Carvalho e seu elenco contava com Ronaldo Lupo, Liana Duval, Renata Fronzi, Pituca, Henriqueta Brieba, Procopinho e Luís Gonzaga, entre outros.



Apresentação de Waldir Calmon no programa Os Melhores da Semana (com patrocínio da Mullard Rádio e TV e da Casa Neno S/A), na TV Tupi dos anos 50. O filme original é mudo e por isso foi sonorizado com a gravação, de 1957, da música Samba no Arpége, de Waldir Calmon e Luís Bandeira. Nesta gravação de Samba no Arpége, Waldir toca piano acústico e solovox - que, no vídeo, podemos ver acoplado ao teclado do piano.


Vídeo que fiz para divulgar a participação de meu pai no projeto Patrimônio Cultural Carioca - Circuito Rádio. Os votos são através de doações para o Instituto Funjor que podem ser feitas no Banco Itaú:

- agência: 0706
- conta corrente: 04730-5 (A.A.A.A. Instituto FUNJOR)
- CNPJ: 18.741.152/0001-00
Depois, o comprovante deve ser fotografado e enviado, com o nome do artista votado, para funjortv@gmail.com . Desde já, agradeço o seu voto!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário