terça-feira, 23 de julho de 2019

Centenário de Waldir Calmon (18)

Crítica de Claribalte Passos


No jornal Correio da Manhã, de 30 de setembro de 1956, Claribalte Passos faz a crítica do LP Feito para Dançar 5, em sua coluna Discoteca. Depois do título Um Solista de Categoria Internacional, segue-se o texto: “Constitui objeto de nossa análise musical, técnica e artística, o disco long-play em etiqueta Rádio (selo vermelho), de 12 polegadas, n° 0043GV, instrumental em 33 1/3 rpm, prensagem de Rádio, Serviços, Propaganda Ltda., de Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro, lançamento de 1956. Trata-se de Feito para Dançar n°5, criações do pianista Waldir Calmon e seu conjunto. Na face A, encontramos uma bela coletânea reunida em pot-pourrit. A saber: Último Desejo, samba de Noel Rosa; Molambo, samba de Jayme Florence e Augusto Mesquita; Recuerdo de Ipacaray, de Demétrio Ortiz e Z de Mirquin; Perfídia, de Alberto Domingues; Love is a Many Splendored Thing, de Fain e Webster; Lisboa Antiga, de Raul Portela. Não há aqui divisão em faixas. Na face B aparecem Guacyra, de Heckel Tavares; Night and Day, de Cole Porter; Risque, de Ary Barroso; Serra da Mantiqueira, de Ary Kerner; Siboney, de Ernesto Lecuona, e finalmente Malagueña, do mesmo autor. Há, no primeiro grupo melódico, uma autêntica mescla de ritmos: samba, samba-canção, bolero e fox. Em Último Desejo, piano e solovox dividem as honras do solo principal, seguindo-se Molambo onde tem especial destaque o solista de piano. Depois, Recuerdo de Ipacaray, sobressaindo-se a guitarra elétrica (suave acompanhamento do solovox, em fundo) e piano. Em Perfídia, Waldir Calmon serve-se, admiravelmente, de expressivos acordes de mão esquerda, bem ao estilo de Roberto Inglês, com notas graves. Love is a Many Splendored Thing, dá melhor oportunidade à execução suave do piano. Finalmente, em variações rítmicas entre o fox e o bolero, termina a face A, com a página Lisboa Antiga. Waldir Calmon faz alarde, em todas as faixas, de extremado virtuosismo e uma notável agilidade digital, principalmente na mão direita. Já nesta altura, temos a definição do talento do artista, na plenitude de sua forma técnica. O desempenho do pianista é, realmente, soberbo, vasado como esteve, na intensidade da expressão e no matiz suave das sonoridades. Premia-o ouvindo ritmo, a par de inimitável burilamento dos desenhos sonoros. Por outro lado, é digno de louvores o bom gôsto do repertório e a singeleza conforme é vestida, através de diferentes arranjos, cada uma destas composições. Na face B, de idêntica maneira, deparamos com a variedade de ritmo e a utilização oportuna do pianista de execuções primorosas sob aspectos estilísticos sempre diferentes quer no plano artístico, quer técnico. Assim, o samba-batucada essencialmente brasileiro aparece na conhecida e tradicional página Guacyra, iniciando-se a execução com o relevo especial do ritmo, seguindo-se as intervenções felizes de guitarra, piano e solovox. Depois, com a melodia Night and Day, temos oportunidade de aplaudir a transplantação do ritmo de fox para bolero, e vice-versa, além da bela marcação feita por Waldir, ao piano, valendo-se do estilo de Maurice Ravel. Também a guitarra aparece eficientemente. Risque, de Ary Barroso, apresenta o belo dueto de celeste e piano. E, após, Serra da Mantiqueira oferece-nos brilhante execução de Waldir ao solovox, reafirmando sua grande classe de solista instrumental. As duas últimas melodias, Siboney e Malagueña, também, justificam nossos sinceros encômios. Feito para Dançar n° 5 agradará, sem dúvida, os mais exigentes dançarinos e amantes do gênero. Nossas felicitações à etiqueta Rádio pela eficiência técnica e artística das doze gravações assim como pelo zêlo com o material de fabricação do disco isento de chiado. – C.P.”

- foto 1 (acima): capa do LP Feito para Dançar 5
- foto 2: contracapa do LP Feito para Dançar 5
- foto 3: matéria no jornal Correio da Manhã (30-09-1956)

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No vídeo acima, Waldir Calmon interpreta Guacyra, de Heckel Tavares. Esta gravação está no LP Feito para Dançar n°5 (Rádio, 1956).

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