Crítica de Claribalte Passos
No jornal Correio da Manhã, de 30
de setembro de 1956, Claribalte Passos faz a crítica do LP Feito para Dançar 5, em sua coluna Discoteca. Depois do título Um
Solista de Categoria Internacional, segue-se o texto: “Constitui objeto de
nossa análise musical, técnica e artística, o disco long-play em etiqueta Rádio
(selo vermelho), de 12 polegadas, n° 0043GV, instrumental em 33 1/3 rpm,
prensagem de Rádio, Serviços, Propaganda
Ltda., de Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro, lançamento de 1956.
Trata-se de Feito para Dançar n°5,
criações do pianista Waldir Calmon e seu conjunto. Na face A, encontramos uma
bela coletânea reunida em pot-pourrit.
A saber: Último Desejo, samba de Noel
Rosa; Molambo, samba de Jayme
Florence e Augusto Mesquita; Recuerdo de
Ipacaray, de Demétrio Ortiz e Z de Mirquin; Perfídia, de Alberto Domingues; Love
is a Many Splendored Thing, de Fain e Webster; Lisboa Antiga, de Raul Portela. Não há aqui divisão em faixas. Na
face B aparecem Guacyra, de Heckel
Tavares; Night and Day, de Cole
Porter; Risque, de Ary Barroso; Serra da Mantiqueira, de Ary Kerner; Siboney, de Ernesto Lecuona, e
finalmente Malagueña, do mesmo autor.
Há, no primeiro grupo melódico, uma autêntica mescla de ritmos: samba,
samba-canção, bolero e fox. Em Último
Desejo, piano e solovox dividem as honras do solo principal, seguindo-se Molambo onde tem especial destaque o
solista de piano. Depois, Recuerdo de Ipacaray,
sobressaindo-se a guitarra elétrica (suave acompanhamento do solovox, em fundo)
e piano. Em Perfídia, Waldir Calmon
serve-se, admiravelmente, de expressivos acordes de mão esquerda, bem ao estilo
de Roberto Inglês, com notas graves. Love
is a Many Splendored Thing, dá melhor oportunidade à execução suave do
piano. Finalmente, em variações rítmicas entre o fox e o bolero, termina a face
A, com a página Lisboa Antiga. Waldir
Calmon faz alarde, em todas as faixas, de extremado virtuosismo e uma notável
agilidade digital, principalmente na mão direita. Já nesta altura, temos a
definição do talento do artista, na plenitude de sua forma técnica. O
desempenho do pianista é, realmente, soberbo, vasado como esteve, na
intensidade da expressão e no matiz suave das sonoridades. Premia-o ouvindo ritmo,
a par de inimitável burilamento dos desenhos sonoros. Por outro lado, é digno
de louvores o bom gôsto do repertório e a singeleza conforme é vestida, através
de diferentes arranjos, cada uma destas composições. Na face B, de idêntica
maneira, deparamos com a variedade de ritmo e a utilização oportuna do pianista
de execuções primorosas sob aspectos estilísticos sempre diferentes quer no
plano artístico, quer técnico. Assim, o samba-batucada essencialmente
brasileiro aparece na conhecida e tradicional página Guacyra, iniciando-se a execução com o relevo especial do ritmo,
seguindo-se as intervenções felizes de guitarra, piano e solovox. Depois, com a
melodia Night and Day, temos oportunidade
de aplaudir a transplantação do ritmo de fox para bolero, e vice-versa, além da
bela marcação feita por Waldir, ao piano, valendo-se do estilo de Maurice Ravel.
Também a guitarra aparece eficientemente. Risque,
de Ary Barroso, apresenta o belo dueto de celeste e piano. E, após, Serra da Mantiqueira oferece-nos
brilhante execução de Waldir ao solovox, reafirmando sua grande classe de
solista instrumental. As duas últimas melodias, Siboney e Malagueña,
também, justificam nossos sinceros encômios. Feito para Dançar n° 5 agradará, sem dúvida, os mais exigentes
dançarinos e amantes do gênero. Nossas felicitações à etiqueta Rádio pela eficiência técnica e
artística das doze gravações assim como pelo zêlo com o material de fabricação
do disco isento de chiado. – C.P.”
- foto 1 (acima): capa do LP Feito para Dançar 5
- foto 2: contracapa do LP Feito para Dançar 5
- foto 3: matéria no jornal Correio da Manhã (30-09-1956)
No vídeo acima, Waldir Calmon interpreta Guacyra, de Heckel Tavares. Esta gravação está no LP Feito para Dançar n°5 (Rádio, 1956).
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